quinta-feira, 3 de abril de 2014

Licença Maternidade

Esse mês recebi dois recadinhos muito fofinhos de duas professoras que trabalhavam comigo na época em que exercia a função de Coordenadora Pedagógica, falaram o quanto aprenderam comigo e como as horas-atividades foram importantes para o desenvolvimento profissional delas. Elas não imaginam que, na verdade, eu que aprendi MUITO com elas e com cargo, sinto que seria uma professora muito melhor depois de exercer a função de coordenadora, tentei fazer o meu melhor, e sou muito grata por tudo que vivi. Obrigada por tudo pessoal! 

Era tão obcecada pelo meu trabalho que muita gente me pergunta quando vou voltar, estranham a minha nova vida estilo Dona de Casa que faz bolinhos gostosos, ou como diriam por aqui HausFrau. Já pirei muito como esse negócio de ter “virado” Dona de Casa e ter que morar num lugar que sou considerada analfabeta, afinal eu não fiz faculdade e pós-graduação para isso. Num desses dias de tristeza TPM, meu marido tentou me animar falando com toda a sua sabedoria: “Você não virou Dona de Casa, apenas está numa licença Maternidade estilo Alemã”. Tenho uma tendência a sempre olhar para as coisas que fiz errado, no que não está legal... Puxa vida! Como não tinha pensado nisso? Realmente não tenho motivos para ficar triste, afinal a maior parte das mulheres brasileiras adorariam ter uma licença maternidade de quase dois anos! Não deixei de trabalhar, pelo contrário, meu trabalho agora é full time! Acompanhar e estimular o desenvolvimento de um ser humano em todas as suas dimensões dá um trabalhão! É cansativo, mas muito gratificante! 

Outro dia numa conversa com uma alemã sobre escola de Educação Infantil, ela me disse que achava que a melhor idade para matricular uma criança na escola era com 2 anos, eu não entendi se as matrículas no Kindergarten eram a partir dos dois anos ou se as pessoas geralmente matriculam com essa idade. Ela é sempre muito curiosa sobre como as coisas funcionam no Brasil, eu tento não denegrir a imagem do meu país... Mas nunca dá certo! Contei sobre a vergonhosa licença maternidade de 4 meses, mas que conseguimos em alguns lugares aumentar para 6! Ela ficou embasbacada, horrorizada, espantada! “Como assim um bebê de 4 meses numa escola! Como assim um bebê de 6 meses numa escola! Bebês nessa idade precisam de suas mães!” Pois é não tinha como discordar...mas também não dá para tiranizar uma mãe que deixa seu filho de 4 meses numa escola! Ninguém faz isso porque acha legal, nenhuma mãe brasileira colocaria seu filho dessa idade numa escola sem NECESSIDADE, nenhuma mãe faz isso sem se culpar, sem chorar horrores e sem sofrer... Contei para ela sobre como a escola em que eu trabalhava era bacana e tal...mas ela nunca iria entender a realidade brasileira.

As vezes levar o baby para a escola é importante! Não há muitas áreas verdes, parquinhos ou espaços seguros para a criança brincar e socializar, brincar na rua é perigoso por causa dos carros e da violência de alguns bairros. Além do que nem todo mundo tem um belo quintal ou um playground de condomínio para se esbaldar. Fico muito triste ao ver que muitas vezes o espaço mais seguro que encontramos no Brasil é o parquinho do shopping ( isso é assunto para outro post), as vezes a alternativa mais segura é ficar trancafiado dentro de casa assistindo TV ou DVDs. Além do que, muitas crianças vivem em situação de vulnerabilidade, a vezes a escola é o único lugar onde elas podem ser crianças, terem acesso a brinquedos, brincar com outras crianças ter atenção e até alimentação. Eu detesto quando falam mal da escola, de como a escolarização precoce é ruim, em alguns casos ela é importante...há casos e casos, não dá para colocar todas as escolas no mesmo saco e dizer que são todas ruins! A Alice não vai para a escola antes dos dois anos pois eu tenho muita sorte! Queria que todas as mulheres brasileiras tivessem uma licença maternidade estilo alemã! 

Sabe como a licença maternidade é aqui? Existe um tal de Mutterschultzfrist (licença maternidade), é de 6 semanas antes da data prevista do parto e 8 semanas após o nascimento do bebê. Dizem que durante o período pré-parto a mãe é proibida de trabalhar e deve se dedicar aos cursos de preparação do parto (sim elas se preparam para o parto normal e o número de cesáreas aqui é infinitamente menor do que no Brasil), amamentação e outras atividades legais para gestantes. E após o parto ela deve se dedicar a conhecer o bebê e ao aleitamento.

Depois vem o Elternzeit, onde pai e mãe decidem quando tempo de atenção exclusiva vão dedicar ao baby. Pode ser de 6 meses a 3 ANOS. Se o homem tira, a mulher deve voltar ao trabalho. Os primeiros 12 meses são remunerados, os demais não. Aqui a legislação incentiva o pessoal a ter filhos, dizem que a taxa de natalidade aqui é baixa, mas na cidade onde eu moro contraria as estatísticas! Tem bebês e crianças para tudo quanto é lado, e os colegas do meu marido dizem que 3 é um número ideal de filhos! Acho que a política de incentivo está dando ótimos resultados... rs

Minha licença maternidade durará até os 2 anos da Alice, logo, logo voltarei a ativa, mas espero empenhar a mesma dedicação que tive enquanto profissional como mãe. Espero também que a Alice lembre com carinho desses momentos que passamos juntas. Estou bem longe da perfeição, mas mãe perfeita não existe, mas estou tentando dar o meu melhor! Lógico que dá uma saudade de trabalhar fora... mas para ser sincera eu não sinto falta do trabalho em si, sinto falta das pessoas incríveis com que eu trabalhei! Mas tenho certeza de que ao voltar para o Brasil e retornar ao trabalho sentirei muita falta de ficar com a minha bebezinha nessa terra geladinha que eu estou aprendendo a amar!

 PS: também sentirei saudades de fazer bolinhos quentinhos toda semana

Beijos
Joy

3 comentários:

  1. Puxa Joyce fiquei emocionado com suas palavras,muito legal mesmo.Bjo do sogrão.

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  2. Parabéns Joyce, acho que Papai do Céu ouviu tuas preces quando você estava com o coração apertado p/deixar a Alice na escolinha. Beijos, curta bastante. Como já havia dito, esses seus textos vão formar um lindo livro.

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  3. Oi Joyce, tambem acho que o bebe tem que ficar com a mãe até completar 2 anos , e se não for com a mãe ficar com a vovó, senti o coração apertadinho quando resolveram mandar a Giovanna pra creche, eu disse que ficaria com ela até completar os 2 aninhos. pra mim o bebe precisa do aconchego familiar. beijos.

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